terça-feira, 11 de novembro de 2008

< EXPERIÊNCIA COM GOA GIL >





Tudo começa na UFC, show do Geraldo Azevedo em comemoração ao dia do servidor público, como não sou servidor e nem possuía o convite, pulei o muro. Dentro da reitoria tenho a oportunidade de encontrar muitas pessoas, dentre elas, o Ian ( DJ X-Level), um dos organizadores da festa;


- Fala Matheus, quanto tempo cara...

- Não é brother, desde às Boom Beats da vida não te vejo hein...

- Aqui, pega aqui um flyer da festa que tô fazendo – Era a festa do Goa Gil, nem acreditei – Tá sabendo já? Você vai?


Diante da pergunta, fui sincero como sempre...


- Porra Ian, na real, eu não vou poder ir, tô sem grana vei, andei me equipando pra poder começar a fazer os trabalhos de assessoria de imprensa Freela e no momento estou na de horror...

Para minha surpresa, o convite veio em seguida...

- Que nada brother, a festa é minha, pega meu cartão e dá uma ligada pra eu colocar seu nome na lista. Você é um cara que sempre me ajudou quando eu precisei sem pedir nada, pode deixar que você vai...


Feliz, foi assim que me despedi do rapaz. No outro dia, de frente para o blog, percebendo a possibilidade de realizar um entrevista com o Sr Gil, adicionei o Ian no MSN e comecei o desdobro. O resultado de toda a conversa foi que ele ficou de arrumar a sonhada entrevista e eu, apesar do pouco tempo, daria uma força com meus trabalhos de assessor de imprensa.


Enfim, a quinta feira, o dia em que o Sr Gil chegaria. Resolvi ir ao aeroporto e tentar uma maior aproximação com o produtor do artista, o indiano radicado em SP, Jigar Assar. Maior loucura, o coroa chegou indignado, reclamando do vôo com escala, perguntando se passaria a vida toda dele em aeroportos, chamando todo mundo de asshole ( a tradução por aqui seria bundão, na minha terra – RJ - cuzão) e querendo saber de quem era a culpa de tudo.


O stress foi diluindo-se até o caminho do carro, quem fumava acendia seu caretinha, tragava, baforava e acalmava. Seguindo na viatura do DJ Peckman e escutando ele gritar – O home chegou, o home chegou!! - cheguei até o Porto das Dunas, onde os visitantes ficariam hospedados. Lá, tudo fluía com um maior grau de tranqüilidade, conversei melhor com o Jigar, agora mais tranqüilo e menos pressionado pelo artista, no fim consegui a entrevista para sexta-feira à tarde.


Acordei... Lembro-me claramente da primeira coisa que veio à cabeça – Putz, acho melhor pedir ajuda a alguém que saiba mais inglês do que eu, – às 14h já estava tudo pronto, as 10 perguntas devidamente corrigidas, o brother que emprestaria e filmaria a história na espera, o gravador com a bateria ok e o cronômetro contanto. Tudo certo, mas...sempre tem um mas...o telefone toca, Ian no comando;


- Alô, Matheus?

- Fala Ian, o que você manda?

- Cara vou ter que te pedir um favor...

- Opa! ( lai vem bomba). Diz brother...

- Você vai já entrevistar o Goa Gil, né? Então, o carinha que estava levando o alvará de licença para a prefeitura bateu o carro, será que tu quebra meu galho e fica com o veio Gil por algumas horinhas? Acho que ele quer vir pra Fortaleza jantar e dar uma volta.

Na hora pensei, das duas uma, ou vou me lascar e ficar de motorista ou então será um experiência única, topei...

- Posso sim brother, desde que você me dê à gasolina, pra ficar fazendo esse city tour.

- Sem dúvida brother...


Cheguei pelo PDD por volta das 17h, os ilustres entraram no carro e logo senti o peso da responsabilidade de guiar para “o homem”, confesso que rolou uma energia doida, algo que oscilava entre medo e euforia, mas, como diante da incerteza o melhor é seguir em frente, tomei o rumo. Dentro do carro decidimos que primeiro iríamos dar uma volta, e o Dragão do Mar foi o lugar escolhido.


Agora, caro leitor, se você teve paciência de chegar até aqui, fica tranqüilo, pois a diversão começará. Quem me conhece sabe que não consigo ficar muito tempo calado e dentro do carro, sem muito assunto e nenhum som, a solução de quebrar o gelo foi tentar estabelecer a bendita comunicação, em inglês,


- So mister Gil, my name is Matheus and I’m a journalist it’s a honror for me talk with you…


Já deu pra sentir o drama né? Meu inglês não é essas coisas todas, mas bato no peito e afirmo que na gringa não morro de fome e muito menos de vergonha de nada e de ninguém. Depois de me apresentar ele respondeu;


- Ok...


Boa resposta, rápido e direto. Resolvi então estimular a conversa, já que ele mexeu a boca por trás da barba e a abertura foi conseguida...Lembrei do Obama.


- Did you see? Barack Obama won...do you really believe in changes Mr Gil? ( No fundo eu queria saber se ele é democrata ou republicano)

Para minha surpresa ele até desenvolveu a resposta.

- (SAP) Acredito que sim, ele me parece ser uma pessoa disposta a fazer mudanças.


Melhorou né? De um Ok para duas orações, a coisa mudou bastante. Continuando a conversa ele me perguntou sobre a distância da festa para onde estava, sobre o lugar, até finalmente chegar num ponto crucial, o histórico da cena eletrônica da cidade....


- Quais outros artistas internacionais já tocaram por aqui?


Respondi os nomes que vieram na hora, como Astrix, Haja Ram, Infected Mushroom, ele ficou surpreso; disse;


- Uau, esses caras não são meu estilo, eles tocam full on, eu faço um som mais experimental – Agora sorrindo e falando com o seu produtor – Nossa vai ser divertido...

Continuava a dirigir e o bate-papo fluir


- Mr Gil, e sobre essa sua maneira de tocar durante horas seguidas? De onde veio essa opção? Por aqui isso será a primeira vez que acontece.

- Eu comecei assim e vou terminar assim, em Goa sempre foi assim, quando tínhamos festa, a festa era do artista que iria tocar e ele tocava durante a noite e o dia todo, quando entrava outro artista, outra festa começava. Esse é o meu estilo.

- Mas da onde vem tanta energia?

- É um hábito, tudo na vida é questão de hábito.


O tempo passava, Fortaleza se aproximava e a cada segundo percebia o quanto o homem no banco de carona poupava palavras, era direto em suas respostas, mas não vazio, aos poucos consegui ver e entender o que se passava...


- Sabe Mr Gil, ontem, quando pesquisando sobre o senhor na internet, vendo seus clipes e entrevistas, meu pai se aproximou para perguntar quem era. Ele é mais uma dessas pessoas que vê a musica eletrônica com olhos negativos, mas o que me surpreendeu foi o fato dele ao escutar e ler o que o senhor falava, ter dito que você era diferente...Olha, escutar isso de um coronel do exército é difícil.( Após gargalhar com certo ânimo, respondeu)


- Música é que nem comida, você pode gostar de comida brasileira, indiana, americana, japonesa, mas tudo isso é comida.


Realmente alguma coisa ocorria, foi então que numa pergunta da qual esperava finalmente conseguir uma resposta longa e elaborada, eu consegui enxergar o porquê de respostas curtas...

- Sr Gil, porque inventar o Trance? Como foi isso? Inspiração, fusão de ritmos?...

- Evolution... just it, evolution...


Para muitas pessoas o Goa Gil não é apenas um artista ou Dj, ele é um xamã espiritual, um mestre, um indivíduo altamente evoluído e recheado de conhecimento. O que para mim era uma entrevista informal de perguntas e respostas, aos poucos foi se transformando em uma aula sobre a vida, as respostas transmutavam-se em ensinamentos.


Vou dar um exemplo de uma gafe que cometi, posso estar me queimando como jornalista, mas como sei que estou iniciando na profissão, tenho muito que apreender e também não tenho vergonha de errar - Que se foda!.


Havia esquecido, Mr Gil era totalmente vegetariano e perguntei, na maior das boas intenções, se ele gostava de frutos do mar, pois Fortaleza é o paraíso dessas iguarias e costumo levar minhas visitas para comer camarão frito com cerva... a resposta-ensinamento veio com tudo;

- Não preciso de nenhum tipo de carne para sobreviver...

Entendeu? Isso não foi uma cortada, foi um ensinamento...Enfim, eu entendi.


Desta forma continuamos o nosso caminho. Fortaleza crescendo em nossos olhos, os dois passageiros do carro surpreendidos pelo tamanho de nossa cidade e Mr Gil confessando que pensava encontrar uma cidade quase provinciana. Depois de 30 minutos chegamos ao Dragão do mar, visitamos um quiosque de artesanato, sentamos num bar, vimos uma apresentação do Maracatu Solar (não lembro o nome completo) e ao passar pela estátua do Patativa do Assaré, o próprio Goa Gil perguntou quem era. Achou bacana o fato dele mal ter freqüentado a escola e ser o maior poeta do Ceará, perguntou se conseguia ver a curiosidade...


Fomos jantar, entrando no carro e questionando sobre aonde e o que gostaria de comer, o próprio tira do bolso uma lista com três restaurantes. Vocês acreditam que ele tinha visto na internet onde poderia achar suas comidas? Rodamos um pouquinho e fomos parar num self-sevice, dentre as três opções, era o único aberto. Dando uma de Nelson Rubens – OK ! OK! – Ele comeu sushis vegetarianos, sendo o que mais gostou era feito de couve e espinafre, disse nunca ter comido um purê de batatas tão delicioso e por fim bebeu uma água com gás.


No fim do jantar, por volta das 21h, o Ian chegou agradecendo horrores, contando uma história de que o gerador da festa tinha caído da caçamba do caminhão no meio da estrada, passei a bola pra ele e me despedi dos presentes...Assim terminou meu dia com o Goa Gil, um dia pra ficar na recordação...



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Um comentário:

Anônimo disse...

que aventura hein! o cara deve ser uma figura rs ;) Parabens!