segunda-feira, 17 de novembro de 2008

< ENTREVISTA COM A DONALEDA >




Neste último sábado, pude ter o prazer de assistir ao show em comemoração aos sete anos de existência da reggae band mais importante da cena alternativa de Fortaleza. Com Andread Jó de volta aos vocais, a Donaleda botou o entupido Reggae Club para dançar e cantar seus antigos e novos sucessos.

Em uma entrevista super interativa, com revelações e repleta das conhecidas e polêmicas opiniões de Andread Jó, pude perceber que a Donaleda está muito bem e continua no caminho certo...Sem delongas e alongas, curtam o bate papo...

_______________________________________


Matheus > Sete anos de estrada, várias histórias pra contar. Muita coisa positiva?


Malaka > A primeira coisa boa de tudo isso é a legião de fãs, o que nos levou a conhecer várias cidades. Principalmente Belém do Pará, onde eu acredito que esteja nosso maior público.

Andread > O nordeste a gente conhece praticamente todo, o norte muita coisa...


Malaka > Culturas diferentes que acabamos conhecendo...

Andread > As pessoas que conhecemos, a troca de informação com outros músicos,acho que isso são coisas positivíssimas pra gente. E não podemos deixar de falar do reconhecimento do nosso trabalho, não só aqui em Fortaleza, mas como em todo o nordeste.


Matheus > Eu cheguei em Fortaleza no ano de 2001 e foi muito impressionante ver uma banda de reggae tocando em vários lugares, música bombando na rádio, todo mundo cantando, um cd pirata rolando pela cidade... Foi um começo muito forte o de vocês...


Andread > Na verdade foi uma surpresa pra nós também; ninguém esperava que fosse rolar de uma forma tão rápida como foi, porque é complicado fazer música autoral, conseguir que o público se identifique e fazer com que ele vá aos shows da banda. Inclusive a gente nem teve uma metodologia pra seguir, as coisas aconteceram naturalmente. Trabalhamos bastante pra conseguir entrar onde o reggae não tinha entrado em Fortaleza. Não sei se na época o forró estava meio que impregnando o ouvido da galera local, o povo queria coisa nova, a gente não pode dizer que é só mérito nosso. Foi tudo muito inesperado, até lidar com tudo isso pra gente foi muito doido.


Matheus > Hoje vocês tem outra infra-estrutura, completam sete anos de trajetória e muita coisa mudou. Atualmente qual é a percepção da Donaleda sobre o trabalho que desenvolvem?


Daniel> Nosso plano é continuar primando pela qualidade do trabalho, agora tivemos a felicidade de receber em nossa banda três novos integrantes, o Helton, Claudiano e o Arroz, um “Nipe” de metais com sax, trombone e trumpete que deu nova vida as nossas músicas. A gente está tentando entrar no mercado internacional, principalmente na Europa e nos EUA.


Matheus > Isso é uma novidade né?


Daniel > Na verdade é uma novidade que já mostrávamos a intenção desde o primeiro trabalho, Liberdade e Libertação (primeiro álbum) 2003, que já continha músicas em inglês, de forma que nós começamos a perceber que a banda estava despertando interesse de grandes gravadoras nacionais, a gente começou a investir fora também, cantando em espanhol, francês, o negocio é expandir. Tudo isso com o alicerce do amor a música, ao amor que temos uns pelos outros, a convivência na estrada...Esses sete anos de banda serviu pra provar que estamos com a base bem afinada.

Andread > Mais sólido e amadurecido né? Sete anos de estrada dá nisso! Querendo ou não a gente tem pequenas discussões como todo mundo, costumo dizer que banda é igual casamento, só que não tem sexo. (risos generalizados na sala). Imagina aí, se com sexo já tem problema... imagine sem(risos).

Malaka > Eu acredito que, nesse caso, o sexo é quando estamos tocando juntos(mais risos).

Andread > É como o Daniel falou, a gente acaba criando uma relação mais que musical. Então a gente passa o final de semana junto, quando rola de fazer um esquema desses que temos de ficar mais de uma semana fora, ficamos mais próximos. Assim vamos aprendendo, vivendo, dividindo experiências e isso tudo soma no lance musical. Nós estamos juntos não só pra produzir música, mas para dar suporte uns aos outros, quando alguém tá mal o outro vem e levanta o astral, aqui deixou de ser só um esquema de banda, já se tornou uma família.


Matheus > Acho meio difícil falar de Donaleda e não falar da época entre 2004/2005, que de repente o Andread saiu, onde muita gente falava – “Pô os caras no ápice!?!.” Acredito que deve ter sido uma fase de repensar tudo que estava acontecendo, de transição mesmo. É correto dizer isso?


Andread > Agora, depois que a gente voltou a trabalhar junto, percebemos que tudo isso foi uma coisa boa pra gente, pra ambos os lados. Acredito ter rolado um maior amadurecimento musical, pessoal; se a separação não tivesse acontecido naquela época talvez a banda até tivesse acabado. A gente já bateu vários papos sobre isso e vimos que realmente a separação, naquele momento, era o que precisávamos. Éramos uma banda nova, atingindo um público muito rápido, eu acho que nos não tínhamos condições psicológicas para lidar com tudo aquilo, já não estava dando certo na época. Não é colocando a culpa na banda ou em algum integrante, foi um momento que recebíamos muita pressão.

É complicado receber o convite de uma grande gravadora querendo lançar seu disco, sair na rua e todo mundo te conhecer, tudo isso pesa para qualquer ser humano. A separação serviu pra dar maturidade, hoje quem vem aos shows percebe isso, “a gente junto” é incontestável. Eu tive meu trabalho solo, com músicos muito bons, mas é esse lance de energia mesmo cara, não dá nem pra explicar...

Bobby > É uma química mesmo que rola...Com o cantor que substituiu o Andread teve que rolar uma adaptação para a voz dele, os tipos de músicas, tudo.. já com o Andread não, foi uma coisa natural...


Matheus > Pra ti que deve ter sido doida essa fase hein Bobby? Assumir o vocal sozinho enquanto as coisas iam se encaixando...


Bobby > Foi sim, foi uma experiência diferente encarar o público todo de frente, levar um show todinho. Apesar de que pra mim era muita pressão, na realidade a minha linguagem no reggae é totalmente diferente da Donaleda. Eu faço parte da Donaleda como um elemento químico que forma a parada , mas sozinho, sendo a cara da Donaleda é diferente...


Matheus > Como que surgiu a idéia do retorno do Andread no início do ano? Deve ter tido muita conversa né? Ou a idéia deste retorno nunca foi abandonada?


Andread > Nãooooo, quando a gente se separou ficamos muito tempo sem nos falar. Teve músico da banda que eu passei dois anos sem falar. Mas assim, eu acredito que ambas as partes sentiam falta do que a gente havia construído.

Quando a gente começou a conversar no ano passado, acho que foi em outubro ou foi novembro, a gente marcou umas reuniões avulsas, do nada, vamos marcar de nos encontrar e tal...Primeiro eu fiz até umas participações, depois de mais de ano sem dividir um palco, a gente fez o mesmo show na Praia do Futuro, eu toquei depois a galera tocou e eu fiz uma participação...

Malaka > Na Biruta...

Andread > Eu acho que daí foi começando a reascender aquela chama. Até que chegou uma hora que a galera resolveu sentar e ver de qual é. Aí primeiro a gente fez o que? Tentamos resolver algum sentimento ruim que existia pois não tem como trabalhar carregando algo de negativo, alguma mágoa e tal. Então a gente quis resolver primeiro essa parte, e mesmo assim na mesma hora não dá pra resolver, é com o tempo!

Mas a gente sentou, conversou sobre coisas que um achava que o outro havia feito de errado, tudo em prol de retornar e trabalharmos novamente juntos. Foi muito natural e cada vez mais estamos aprendendo uns com os outros, o lance da humildade, de tentar superar sentimentos que tinha, sabe? Nesse momento eu sinto que está tudo resolvido, que já passou...Tem praticamente um ano que nos voltamos a trabalhar juntos,então, parece que eu nem sai da banda. Pra mim eu estou com essa galera desde 2001.

Bobby > Engraçado que mesmo com o outro cantor, ninguém esquecia o nome dele, todo mundo ficava falando, lembrando, aquela coisa... Acho que o Andread andava tocando por aí com a orelha quente, achando que os outros estavam falando dele (risos no backstage)... Mas porque realmente existia isso, a pessoa sempre falando, ele estando ausente ninguém esquecia.


Matheus > Vocês estão lançando o terceiro álbum, Tudo tens de rever, o que vocês podem falar sobre o disco?


Andread > Ele começou a ser gravado no início deste ano, na verdade, comigo isso, porque ele já estava sendo feito antes de eu voltar pra banda. Eu não participei da fase de criação, desse processo de composição e tal... Eu cheguei num momento que estava tudo praticamente pronto, o que fiz foi na verdade pegar o que tinha e colocar um pouco da minha influência ali dentro. Até porque ia interpretar músicas e não podia copiar o que o Bobby já havia gravado, esse disco já foi mixado várias vezes, foi feito um trabalho muito doido, mas assim...

O que eu posso falar desse trabalho que ele é a continuidade do Liberdade e Libertação, mas com um lance musical mais maduro. Inclusive a gente tá pensando em pegar algumas músicas e fazer regravações com os metais. A nossa idéia neste momento é fazer que nem o Machado de Assis, ele escrevia o livro, deixava guardado e depois de um ou dois anos ele relia e terminava de escrever. Apesar das músicas já terem sido disponibilizadas na internet, a idéia de modificá-lo existe e nos vamos discutir.


Matheus > Esses dias entrevistando o Ciro, vocalista da Faculdade Mental, perguntei a ele se o reggae aqui em Fortaleza está novamente tribalizado, que vocês acham disso?


Fábio > O próprio Malaka fala... é uma questão de geração...

Malaka > Houve uma renovação de público, tem pessoas que iam para o show da Donaleda e estão casadas hoje em dia.

Bobby > Tem gente que ia com os pais e hoje vai sozinha...

Andread > Pra mim, na verdade tem duas óticas. Assim; existem as pessoas que realmente curtem reggae, e existem as pessoas que são as chamadas “Maria vai com as outras”, que infelizmente ainda são a maioria em Fortaleza. Somos uma cidade grande, mas ainda somos muito provincianos. Fortaleza é muito de modinha. Existe um público fiel que não deixou de curtir. A chegada da música eletrônica, que não tinha tanta força na época, acabou levando um público que andava nos reggaes. Eu tive uma vez o desprazer de ir numa rave, com maior respeito ao pessoal da música eletrônica, mas eu gosto de música com conteúdo, acho que música que só tem barulho e não tem letra pra mim não diz nada... Respeito o movimento deles, mas eu fui e vi muita gente que andava no reggae, só que é aquela galera que te falei, que não tem opinião própria, que vai porque o outro diz que é legal. Falta um pouco mais de personalidade para o público de Fortaleza. E como a galera falou, acredito também nesse lance de gerações.

Daniel > Tem uma galera que não podia nem entrar nos shows da banda pela questão de idade mesmo, hoje já pode...


Matheus > Percebo que no nordeste as bandas crescem e tendem a ir pro sudeste “tentar a vida” no eixo RJ-SP, mas o mundo está se globalizando, as fronteiras caindo, as distâncias diminuindo...Isso faz a cabeça da Donaleda? Esse lance de se mudar?


Andread > Rapaz isso funciona com a galera que a família tem dinheiro pra bancar a banda lá. Porque é o seguinte, eu já estive em SP duas vezes e a cena de lá é maior, mas a quantidade de bandas também é absurdamente maior. Então você troca seis por meia dúzia. A gente acredita ainda que a melhor forma de crescer um trabalho é fortalecer primeiro dentro da sua cidade. Esse lance de que aqui ninguém valoriza o trabalho, claro que isso existe, mas não acho que não seja um motivo pra você largar tudo e começar do zero.

Posso citar um exemplo muito bom disso aí, que é a Matutaia, uma banda de rock e blues que veio antes da gente, era a melhor banda daqui, fechavam a rua do Órbita. Os caras chegaram num momento que se achavam demais para Fortaleza, foram pro RJ e chegaram lá eles não eram nada. Passaram um ano, dois anos em depressão, quando voltaram pra Fortaleza o público já não abraçou mais o trabalho deles. Quer dizer, esse lance de ir pra RJ-SP nunca existiu e como você falou, com esse lance de internet isso acabou. Acredito que isso é meio que uma ilusão, aquele sonho do nordestino de ir pro sul e ganhar dinheiro, êxodo rural...


Matheus > Vocês são adeptos a Free Culture, todo o material de vocês está disponibilizado na internet. Isso é moda, tendência ou realmente é o futuro?


Daniel > Se você for prestar atenção no conteúdo das letras da Donaleda, você vai perceber que as músicas que nós fazemos não são para vender cd, é sim para que as pessoas possam captar as mensagens contidas e que sejam bastante acessíveis.

Andread > O mais importante pra gente são as mensagens e idéias que nós temos pra passar e a forma mais viável é a internet, prensar disco hoje está cada dia mais difícil, a pirataria é muito grande, no Brasil ainda não foi definido esse lance de downloads pagos e recebimento... A internet hoje está acessível para todo mundo, só o que tem é Lan House por aí, todo mundo tem Orkut, MSN.

Bobby > O objetivo da gente não é só tocar o reggae com uma música pra dançar e tirar os caôs. Mas também como uma música de mensagem, com conscientização...


Matheus > Finalizando gostaria de deixar o blog aberto para alguma mensagem e agradecer a oportunidade desta entrevista com a Donaleda...


Andread > Vamos terminar com as palavras do grande pensador Gandhi - " A verdade deve se manifestar. Se em nossos pensamentos, em nossas palavras e em nossas ações." Queria agradecer a oportunidade de estar mostrando nosso trabalho no seu blog, dizer que estamos sempre disponíveis, o que é uma grande honra pra gente. Grande abraço a todos...



__________________________

lINKS RELACIOADOS A GALERA

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=979420

http://www.myspace.com/andreadjo

http://www.myspace.com/donaleda


....

3 comentários:

Rosangela A. Santos disse...

Não conheço o grupo .. vou dar uma sapeada e ver as musicas deles .. a entrevita ficou bem legal ..

Parabéns..

Abç.

http://www.analucianicolau.adv.br

Zunta Zion disse...

Pow Matheus, iraaaada a entrevista hein, gostei bastante, abordou tudo que aconteceu, massa mesmo, só que o bobby não ficou sozinho o tempo todo não, teve um cara que cantou com eles o dudu irie, mas não foi tanto tempo não. Sei que seu blog ta bem legal.
parabeeenss mesmo

Taciano Família Neves disse...

Parabens a DONALEDA, Parabens ao Matheus pela entrevista...EU TIVE LA NO REGGAE CLUB, e me emocionei em ver a DONALEDA daquele jeito (100% FELIZ)...e fiquei muito feliz tbm!

pode ter certeza galera da banda, que Fortaleza ama VCS...!

Salve Salve!!! DONALEDA